31 de dezembro de 2007

ANO NOVO, e vida dependente!


Tem momentos na vida, que não conseguimos nem ao menos expressar o que sentimos, são mistos de tristezas, expectativas, desencontros e esperanças que se frustram, nascem novamente e depois acabam.
Sempre haverá um caminho melhor pra se traçar, mas onde ele se encontra? Como podemos encontrar algo, quando já não se enxerga nada, onde já não existe mais nada?
Nessas horas podemos entender o salmista que dizia, até quando Senhor deixará que os meus inimigos prevaleçam sobre mim? Ou mesmo sentir o grito de quem pergunta e o Teu Deus, onde Ele está?
Onde Ele está? Onde? E só com os olhos da fé, com o coração de quem experimenta o Deus que se manifesta no interior do homem pode responder.. ELE está aqui, dentro de mim, mesmo calado, sem mostrar nada...ELE está aqui, não me esqueceu, mesmo sem ver, sem sentir. ELE fará o que não se pode ver, nem saber...uma coisa só, sem saber como, onde, o que, mas Ele fará....esse Deus invisível o qual não compreendemos a maneira de agir, não sabemos porque Ele faz ou permite que aconteça, tem personalidade, ELE é Fiel, Justo, Amoroso e Jamais, jamais, jamais nos abandona. Então sempre haverá um caminho, sempre haverá uma porta aberta, sempre haverá provisão, nunca faltará amor, paz e alguma mão que mesmo humana, terá forma de anjo, dos anjos que Ele dispensa pra trabalhar em nosso favor. Seja como e onde for, haverá segurança, sempre e pra sempre, até o final, haverá segurança....
E no meio de tudo, quando ouço essa pergunta.. O Teu Deus onde está? Respondo com segurança, Ele está aqui e não me deixará, porque isso não depende de mim, não depende da minha justiça, do meu bom proceder, é a maneira dELE ser...ELE jamais abandona os seus!

21 de dezembro de 2007

DEUS E UMA CRIANÇA



Rubem Alves, em texto publicado na Folha de S. Paulo.

SOU UM ADMIRADOR de Gandhi. Cheguei mesmo a escrever um livro sobre ele. Estou planejando convocar os amigos para uma homenagem póstuma a esse grande líder pacifista e vegetariano.
Pensei que uma boa maneira de homenageá-lo seria um evento numa churrascaria, todo mundo gosta de churrasco, um delicado rodízio com carnes variadas, picanhas, filés, costelas, cupins, fraldinhas, lingüiças, salsichas, paios, galetos e muito chope. O grande líder merece ser lembrado e festejado com muita comilança e barriga cheia!
Eu não fiquei doido. O que fiz foi usar de um artifício lógico chamado "reductio ad absurdum" que consiste no seguinte: para provar a verdade de uma proposição, eu mostro os absurdos que se seguiriam se o seu contrário, e não ela, fosse verdadeiro. Eu demonstrei o absurdo de se celebrar um líder vegetariano de hábitos frugais com um churrasco.
Uma homenagem tem de estar em harmonia com a pessoa homenageada para torná-la presente entre aqueles que a celebram. Uma refeição, sim. Mas pouca comida. Comer pouco é uma forma de demonstrar nosso respeito pela natureza. Alface, cenoura, azeitonas, pães e água.
Escrevo com antecedência, para que vocês celebrem direito. A celebração há de trazer de novo à memória o evento celebrado.
É uma cena: numa estrebaria uma criancinha acaba de nascer. Sua mãe a colocou numa manjedoura, cocho onde se põe comida para os animais. As vacas mastigam sem parar, ruminando. Ouve-se um galo que canta e os violinos dos grilos, música suave... No meio dos animais tudo é tranqüilo. Os campos estão cobertos de vaga-lumes que piscam chamados de amor. E no céu brilha uma estrela diferente. Que estará ela anunciando com suas cores? O nascimento de um Deus?

É. O nascimento de um Deus. Deus é uma criança.

O nascimento do Deus criança só pode ser celebrado com coisas mansas. Mansas e pobres. Os pobres, no seu despojamento, devem poder celebrar. Não é preciso muito.Um poema que se lê. Alberto Caeiro escreveu um poema que faria José e Maria, os pais do menininho, rir de felicidade: "Num meio-dia de fim de primavera, tive um sonho como uma fotografia: "Vi Jesus Cristo descer a terra. Veio pela encosta do monte tornado outra vez menino. Tinha fugido do céu...'" Longo, merece ser lido inteiro, bem devagar...
Uma canção que se canta. Das antigas. Tem de ser das antigas. Para convocar a saudade. É a saudade que traz para dentro da sala a cena que aconteceu longe. Sem saudade o milagre não acontece.
Algo para se comer. O que é que José e Maria teriam comido naquela noite? Um pedaço de queijo, nozes, vinho, pão velho, uma caneca de leite tirado na hora. E deram graças a Deus.
E é preciso que se fale em voz baixa. Para não acordar a criança.
Naquela mesma noite, havia uma outra celebração no palácio de Herodes, o cruel. Ele tinha medo das crianças e mataria todas se assim o desejasse. A mesa do banquete estava posta: leitões assados, lingüiças, bolos e muito vinho... Os músicos tocavam, as dançarinas rodopiavam. Grande era a orgia.

É. Cada um celebra o que escolhe. Acho que vou fazer uma sopa de fubá que tomarei com pimenta e torradas. E lerei poemas e ouvirei música. E farei silêncio quando chegar a meia-noite e, quem sabe, rezarei?